sábado, 28 de maio de 2011

construção

filho do Sol
filho da Lua
filho da Puta

Pro meu pai

Pras horas que há explosão em meu estômago
A benção que já não mais lhe peço
Do que combinamos, eu nunca cumpri
Vários atrasos, duzentos mil palavrões

Minha falta de cheiro

Faca serrote martelo felpas, meus dedos
Teu cafuné, cabelos
Nossas rugas, as que fiz, as que lhe fizeram o tempo
Seu enorme pé, tuas mãos
Cê tem chulé
Café bom
Do que eu e você não acreditamos mais
Sardas e cordões
Sem canções, talvez uma agora, sei não

Me acorda, vai
Me leva pra escola
Pro trabalho contigo
Um abraço
Uma chance, vai

Tá, eu vou dormir cedo.
Vou dar um jeito.
Eu sei, tá bom!
"Você sempre sabe, Raul."
Me arranja um trocado?

Eu sempre admirado, mesmo que distraído
Você sempre tão humano
Cara de bravo

Traga as malas, corações
Trovoadas, uns vários riscos no céu, chuvarada

Dá descarga
Calce o chinelo
Ó a friagem
Volte cedo
Olhe o tempo que cê tá no chuveiro.

As muitas há muitas um bilhão
Exagero

Vou sempre, sei bem eu, que sempre, sim
Te amar muito, cara!

sábado, 14 de maio de 2011

Contrito

Já que ti ponta pra céu, cai d'asas navegar
Fura-te a imagem e alarga, salta
Fundo, acima d'olho, num posto desconforto, nu
Teu bem seguir lembrar, embeber d'água, canto flor
Entre pilhas, horizonte, veemente vê que se toma partida
E vá de sumiço, evaporar

Prenúncio é de calma, "avis rara, avis cara"

na sala, o sofá, frio, só, de canto, num canto

terça-feira, 10 de maio de 2011

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Paula

Pra passo, traço, ãfa de escorrer por longe, debandado
palmo a palmo, no soletrar de cada seio atritar

por meios, o fixo, alegria imutável, burra
em falta o escuro se fez noite
num corre-corre sem sentido
um sopro torto, retumbante, anuncia claro um sol manhã

...teu corpo, por toda mão, tua mão por todo corpo

Intimo, cravar num visto, terras inexpiadas, passadas
desafino pleno, num risco preciso, deleitável
entre dentes, o par língua emaranhado, saliva
cheiro de fio a corpo

(Ao som de Hermeto Pascoal - Fabíola)
o amor não veio
separou calça sapato meia camisa cinto
programou o relógio
deitou mais cedo
veio o bocejo
chegou o sono sonhos pesadelos
o dia veio
junto veio o relógio e seu canto tão pontual
ouvidos ouviam
olhos abriam
pés e mãos trabalhando o eterno tão difícil levantar
já de pé
mão esquerda ajeitada o pau e as bolas
a direita coçava o braço esquerdo
caminhou pro chuveiro
que choveu e choveu, por longos 3 minutos
secou tudo, dera mais atenção aos dedos do pé e o corte que divide a bunda
não gostava de sabores azedos pelo corpo
vestiu tudo, penteou os cabelos, requentou o café preto e saiu
saiu pela porta, não pela janela
janelas são portas de paisagem
portas são apenas portas de passagem
partiu
foi pela calçada toda errada esburacada
pensava enquanto ia
o amor não veio
se é que ele existiu nestes teus rosados e pequenos seios
além dos meus

(Ao som de Erik Satie)

domingo, 8 de maio de 2011

Sangue preso

Guizo cascavel, montanha de subida rala respiração, fumante sinusite rinite bronquite de boa inspiração, me arrebenta a porta, invada minha janela, cuspa boas idéias, me atire dum penhasco, envolva-me com um ré, soa tua boca rosa amarela em meu ouvido, suor tua pele sua na minha, me machuque, me destrua, invada-me em guerra, exploda minha cabeça, fure meu telhado, corte meu cabelo, morda os meus dedos.