quarta-feira, 27 de junho de 2012

domingo, 24 de junho de 2012


esquece a casa a casca o casco o destelhamento
o mofo que toma o canto esquerdo do teto do quarto
            a secreção

atrasado, esquece os sapatos (sai descalço)

esquece o passo
o tempo
esquece o próprio rosto

sem pó nem café cerveja vinho
             sem janta
             sem banho

a pele que descama
que se desfaz e arranha em contato com qualquer superfície áspera

esquece os dias
                         o sol
                             o céu
                  a noite
a namorada - namorada? -
a palavra
               o sexo

rosas num copo d'água

esquece a conta
esquece o mês
                         esquece esquece
esquece

não alimenta o peixinho o gatinho o cachorro

as baratas rodopiam pela casa
                                tudo as traças

          
            esquecer não é fácil


(Ao som de Simon & Garfunkel - Bookends)

sábado, 23 de junho de 2012

ainda bem
que tenho
uma bicicleta
e meia dúzia
de amigos
para abraçar
e chorar
ainda bem

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Figueiredo, constelação de Lúbia

de nada servem os mapas
sim, de que servem os mapas?
bússolas
pegadas
migalhas de pão

de que servem os amigos
uma mão
de que serve?

o ofício o dom o amor o vício a guerra o tom

e esta solidão
este tudo que não
nada vezes não vejo nada
e nado sem mapa
sem pés de pato

sem mim
sem quase
semi quase
semi enfarte
semi vivo
morto

tudo meio
estou morto
tudo tudo tudo tudo

tão quase tão quanto tão chato tão santo

não, os mapas nunca me servirão de nada
os mapas eu rasgo
as Três Marias eu não
as Sete Irmãs não
Vênus eu jamais
Leo Hidra Andrômeda Órion Escorpião Touro Peixes eu nunca

estrelas, um bicho luminoso, estrelas
um bicho morto
constelações de uma luz assim tão grandiosa e numerosa
estrelas mortas
de que me servem as estrelas?
estrelas
de que me servem?

abro o caderno todo o domingo
assim, imaginando encontrar
encontrar o teu caminho
um caminho que dê em seu caminho
de que o caderno de domingo
bata os nossos signos
e diga:
vá, vá que dará
e eu iria flecha
e eu iria seta
e eu iria

pai, de que me servem estas estrelas, mãe?

- ninguém responde, concluo eu, afoito -

nada, nada além da certeza de quão grande é
o espaço a imensidão essa solidão
o uno o verso
e de quão grão sou
mas ainda sim, eu rasgo todos mapas
e acredito que te encontro no caminho
vivo
vida.


(Ao som de Tortoise - A simple way to go faster than light that does not work)

para ouvir o poema em áudio e vídeo:


domingo, 3 de junho de 2012

quase

                 sumo
                 úmido

disparo curtos pensamentos pelo quarto
            rajadas

                 sumo
          seco
                          desço
                 fundo
as escadas de casa
pensamento lento
              sem fundo
              sem sumo

abro a geladeira e me esqueço de tudo